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escolha, destino e personalidade
dá pra escapar de si mesmo? 💀
1.
um vídeo com um homem em frente a uma estante cheia de livros. usando pulôver e óculos, o cara parecia um professor e mostrava um vídeo em que a animação gráfica de um cavalo andava sem sair do lugar. dizia ele que quem visse o cavalo andando para frente seria uma pessoa cujo uso do hemisfério direito do cérebro era mais intensa e, portanto, ela era mais metódica e racional. por outro lado, quem visse o cavalo andando para trás, estaria usando mais o hemisfério esquerdo do cérebro e, portanto, tendia a ser mais emocional e criativa.
2.
é provável que eu tenha confundido, para o trote do cavalo, os hemisférios do cérebro e o maior uso de qual deles faria de mim uma pessoa mais metódica ou criativa. mas nada disso é importante e pesquisar o vídeo que provavelmente está nos salvos do meu tiktok não é uma opção. mas, o que me chamou a atenção de verdade foi a buzzfeedização da coisa toda e como no mundo da “criação” de “conteúdo” isso é algo relativamente normal.

3.
aos mais literários: qual mosqueteiro de alexandre dumas você é.
aos trouxas: qual casa de hogwarts é a sua. (a minha é sonserina)
aos esportistas: qual time de futebol representa sua vida amorosa.
aos cientistas: que bolsa da capes define sua vida sexual.
e fazemos (ou não fazemos?) esses testes dia sim, dia não. e quando não é um teste propriamente dito do buzzfeed, não é raro nos pegarmos fantasiando posições às quais não ocupamos (ainda).
4.
meu personagem favorito na sociedade dos poetas mortos é o dalton. uma vez, empurrei esse fato de maneira inconveniente para um amigo que estava vendo o filme pela primeira vez — como se isso fosse muito importante (assim como acabei de fazer). ele devolveu meu entusiasmo com a esvoaçante alegria de uma folha de alface murcha. uma expressão vazia diante de uma associação subjetiva que, honestamente, já dizia pouquíssimo sobre mim então. meu amigo, apesar da mesma idade na época, já havia entendido algo que eu ainda não sabia e imagino que ainda estou aprendendo.
qual personagem da sociedade dos poetas você é na vida?
5.
uma vez, meu terapeuta disse que não existe personalidade. não de um jeito monolítico em que as coisas vão se juntando de um jeito coeso e coerente. o nome disso é redação e, honestamente, é um tipo textual triste que abre caminho para inúmeras outras tristezas. o fato é que essa busca por se ver refletido em personagens é um assanhamento pra construir uma personalidade de um jeito questionável. é claro que há algo de bom nisso, mas há algo de bom até em morrer.
6.
o que existe de mais encantador nas tragédias gregas e que ainda é usado em diversas histórias é o questionamento de “pode alguém fugir do próprio destino?” a arte nos mostra inúmeras vezes que não, e que ser ou não ser pouco importa porque, afinal, depois de ter sido, o que foi será entendido como o que era pra ser.
tudo o que existe no meio disso é ansiedade.
7.
da animação do cavalo ao teste do buzzfeed, da tragédia grega ao teatro shakespeariano, não há nada capaz de nos impedir enfim de nos tornarmos nós mesmos.
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